Educação e Tecnologia

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domingo, 18 de outubro de 2009

A Escola de Maria e A Escola do Futuro

A Escola do Futuro



Precisamos olhar o mundo de hoje
com os olhos do mundo de amanhã,
e não com os olhos do mundo de
ontem. (LEVI, 2001).


O Artigo “A Escola de Maria”, publicado por Jaime Balbino, no dia 16/03/07, conta a rotina de uma professora, Maria, que já está incluída no mundo digital, ela conhece e utiliza várias das novas tecnologias implementadas pelo Governo em sua sala de aula. O artigo destaca alguns projetos que estão sendo colocados em prática agora, são projetos pilotos ainda, como o Projeto UCA (Um Computador Por Aluno), a TV Digital Aberta e outros.

A Escola de Maria é uma visão do futuro diante do crescimento das novas tecnologias. Pesquisas mostram que os projetos pilotos estão dando resultados nas escolas, o índice de evasão diminuiu, os alunos estão tendo mais interesse em ir à escola, sabendo que não vão assistir aulas tradicionais, onde o professor fala e os alunos copiam, e a escola também proporciona aos alunos uma educação voltada para a realidade de cada um, buscando inseri-los no mundo digital, dando a oportunidade de conhecer, mesmo aqueles que não têm condições de ter um computador em casa. Os projetos são uma forma de estar em constante comunicação com os alunos.

Muitos professores têm resistência a aceitar as novas tecnologias por achar que irá perder o seu lugar, por não acreditar que dará certo ou por acomodação talvez, mas para a educação ser de qualidade, como dizia Paulo Freire “deve-se educar com as ferramentas de seu tempo”, e as tecnologias estão aí, fazendo parte do cotidiano de todas as pessoas, e cabe ao professor trazer isso para dentro da sala de aula, para tornar as aulas mais interessantes e significativas para os alunos, onde eles terão que construir seus conhecimentos tendo participação ativa no processo ensino-aprendizagem.
Maria pega o ônibus após ter andado cerca de cem metros até o ponto. Passa um pouco das seis da manhã e ela já não fica mais tão cansada depois de 5 anos nesta mesma rotina.



No entanto, muita coisa aconteceu neste tempo e Maria sentiu as mudanças. Só que, ao contrário das épocas anteriores a sua, ela hoje consegue se integrar às novidades e, principalmente,ajuda a construi-las. São milhares de professoras e professores iguais a ela, e é incrível como eles influenciam positivamente este novo sistema educacional, não repetindo a antiga e frustrante disputa entre "ministério x secretaria x prefeitura x escola x diretor x professor...".

Durante o percurso que faz todos os dias entre as periferias da sua casa e da escola, com uma cidade inteira no meio, Maria aproveita para estudar. Ela abre sua bolsa e pega o pequeno aparelho, não maior que um caderno: é seu assistente multimídia pessoal, computador portátil de baixo-custo, muito discutido em meados da primeira década e hoje pivô da revolução educacional que ela sabe que faz parte.

Ela liga o aparelho e o utiliza para sintonizar a TV Digital Aberta no canal de formação continuada, mantido pelo governo federal para o aprimoramento dos servidores das diversas esferas públicas. Existe uma dezena de canais semelhantes a este, voltados para a educação, profissionalização e aprimoramento dos mais variados perfis de cidadãos. A qualidade da programação e a metodologia empregada já renderam prêmios e menções pelo mundo afora. E começa a ser copiada por outros países após a ONU recomendar o modelo.

O programa que ela quer assistir não dura mais do que meia hora. É sobre avaliação no ensino e trata de um aspecto específico do seu planejamento. A "teoria da avaliação" ela já estudou no curso superior a distância que terminou há três anos pela Universidade Aberta, onde se formou pedagoga . Antes, ela era uma profissional de prática, situação hoje quase inexistente, já que o governo agora impõe severas sanções aos estados e municípios que não qualificam seus professores.


Sendo o programa ao vivo é possível participar por e-mail, fax, telefone, chat e até vídeo-conferência. Seu assistente multimídia pessoal pode estabelecer uma conexão sem-fio, via rádio, diretamente com um provedor público ou particular de Internet. Mesmo distante destes provedores é possível se conectar a eles através de "pontes virtuais" criadas por outros computadores semelhantes próximos a ela. Como praticamente todo mundo tem um - inclusive as crianças em idade escolar - quase nunca Maria fica isolada. Estes canais de TV Digital do governo também funcionam como provedores, num acordo mantido diretamente com as prefeituras de cidades de pequeno e médio porte (como a sua), que são economicamente inviáveis para a iniciativa privada e cujo serviço de Internet já vinha sendo oferecido de forma independente - e quase clandestina - pelos próprios municípios à população, num movimento silencioso iniciado em 2006.


Mudanças na antiga Lei Geral de Telecomunicação que privatizou na década de 90, transformou o acesso à Internet em serviço essencial (como água, luz e telefone) e permitiu ao Estado retomar investimentos e prover serviços em casos especiais - situação antes proibida pela lei, por medo de uma "reestatização" do setor. Isto garantiu uma universalização rápida do acesso, principalmente nas regiões isoladas e em populações marginalizadas.


Mas mesmo se Maria não tivesse acesso à Internet e não pudesse interagir com a programação, ela poderia assisti-la passivamente, da maneira tradicional, já que o sinal digital da TV é de ótima qualidade e possui maior alcance que o antigo sinal analógico.

Maria vê a conversa no chat, mas interage pouco para prestar atenção na aula. Nem seria necessário, pois neste mesmo momento ela também grava o programa. Não no seu pequeno computador, subsidiado pelo governo do seu estado, sem condições de compactar e armazenar um conteúdo multimídia tão grande. Este pequeno milagre é possível porque já há algum tempo Maria programou o setup-box que tem em casa - aparelho que converte o sinal digital da antiga TV - para gravar este programa.


Mais tarde ela poderá transferir o conteúdo para seu PC ou gravar um DVD. Toda programação da TV Digital é indexado e possui uma ficha anexa com informações relevantes sobre seu conteúdo. Assim Maria pode criar um catálogo pessoal e até realizar buscas sobre temas, textos e imagens específicas.

Todos estes equipamentos ela conseguiu através de subsídios, isenção de impostos e financiamento estatal. Maria ainda "se deu ao luxo" de escolher um setup-box mais avançado que o sugerido pelo governo, para poder gravar seus programas favoritos e estes cursos de formação.


No tempo que resta da viagem, depois que o programa termina, Maria digita alguns pequenos lembretes no seu assistente, usando a tela sensível ao toque do aparelho. Ela ainda acha muito difícil digitar ou escrever com uma caneta-apontador, por isso escreve frases curtas que farão parte da composição que ela tem que enviar ao curso que acabou de assistir.

Quando Maria desce do ônibus já se passou quase uma hora. Ela ainda terá que andar alguns quarteirões até a escola. Seus pensamentos não estão na escola ou no trabalho que mais uma vez está preste a desempenhar. Ela pensa na família. Procura se lembrar de algo que acha que esqueceu... Não deve ser nada importante, mas a sensação a incomoda.

Enquanto se aproxima da escola. Seu assistente pessoal, que está parcialmente desligado dentro da sua bolsa, se conecta ao servidor da escola e recebe os últimos informes e atualizações. Maria não é avisada de imediato pela máquina, mas da próxima vez que ligar o pequeno computador, já dentro da sala de aula, descobrirá, por exemplo, que Sandra, uma aluna sua, faltou hoje por causa de uma forte gripe.

Caberá a Maria designar um colega que more perto de Sandra para gravar a aula em seu assistente pessoal e mais tarde transferir os dados para o assistente de Sandra. Caso seja vizinho, este colega nem precisará ir à casa de Sandra, basta estabelecer uma conexão sem fio com ela para realizar a missão. (Mas é claro que a boa educação manda que seja feita uma "visitinha" de cortesia...) Assim como os professores, cada aluno possui um assistente pessoal, porém as máquinas dos alunos são diferentes. Possuem teclado real e uma área branca destina à escrita e ao desenho a mão-livre. Também são mais resistentes a quedas e mais coloridos. Cada criança personalizou seu assistente com grafismos, trocando as cores de partes da carcaça e criando capas para guardá-los.

O assistente que Maria foi parcialmente subsidiado pelo seu estado e financiado a juros baixo pelo governo federal. Ele foi montado localmente, com peças importadas, já que não havia ainda fábricas de semicondutores e para os demais componentes eletrônicos. Os assistentes das crianças foram adquiridos pelo governo federal e doado às crianças por intermédio da escola. No primeiro ano eles foram importados já montados, após uma avaliação dos custos e do impacto real na economia. A partir do segundo ano, as máquinas começaram a ser fabricadas localmente e o governo conseguiu negociar a fabricação das partes mais complexas, impulsionando um desenvolvimento tecnológico real ao manufaturar os componentes de alta-tecnologia no próprio país.


Porém, o principal desafio é o desenvolvimento de novas metodologias educacionais integrando-as a uma rede de serviços que dê sustentabilidade à tecnologia. Novos paradigmas surgiram e o conhecimento adquirido neste processo faz do país referência internacional em educação.


A filosofia de trabalho e muitos dos programas instalados são idênticos em ambas as máquinas. Mas os assistentes das crianças não possuem receptores para TV Digital, elas podem acessar a programação ao vivo pela rede sem fio da própria escola e, é claro, em suas casas, através de aparelhos de TV novos ou ligados a setup-box, cujos modelos mais simples são muito baratos. Na biblioteca da escola também é possível acessar alguns programas que foram gravados no servidor.

A classe onde Maria leciona continua tendo 37 alunos - como a 5 anos atrás. A diferença está no baixo índice de evasão e na perceptível melhora no aprendizado, possível graças à maior oferta de recursos pedagógicos e a implementação de novas metodologias e técnicas de planejamento. Maria passou também a lecionar em uma única escola, conforme a lei de valorização do profissional de educação que agora regulamenta a profissão de professor e estimula sua qualificação profissional.


Seus alunos agora têm acesso a recursos pedagógicos que ela nem sonhava na idade deles - e mesmo depois de se tornar professora. A maioria destes novos recursos estão embarcados nos pequenos assistentes multimídia pessoais dos alunos:


Não se aboliram os livros impressos, mas agora eles se concentram em literatura e não em publicações didáticas. A dinâmica das aulas e sua estrutura hipertextual inviabilizou as publicações tradicionais.


As ferramentas de comunicação embutidas nos aparelhos e a rede virtual sempre ativa criam um ambiente colaborativo rico e produtivo. As próprias crianças conseguem estabelecer regras de convivência no mundo virtual e desenvolvem uma metodologia própria de produção em grupo que supera todas as teorias e treinamentos dados aos professores quando da adoção destas máquinas. Maria inclusive faz parte de um grupo de pesquisa virtual, mantido por uma universidade do sul, que estuda este fenômeno.


Simulações e pesquisas multimídia agora são possíveis. A biblioteca da escola oferece um acervo virtual que quase torna dispensável a Internet. Os próprios professores enriquecem esse acervo com suas indicações de links. É possível manter controle sobre todos os acessos realizados à biblioteca e à Internet, o que permite classificar os materiais mais acessados e, em raras situações, bloquear materiais impróprios ou indesejáveis.


A produção do aluno é armazenada em seu portfólio virtual e, dentro de certos parâmetros, pode ficar disponível na Internet para visualização da comunidade. O objetivo é fortalecer a relação entre o trabalho do/a aluno/escola e a sociedade, sua influência e interdependência.


Agora é possível realizar experimentos de medição e coleta de dados complexos em campo já que os assistentes funcionam como laboratórios portáteis. As próprias crianças constroem os sensores, colhem os dados e os interpretam.


Além de exercitar o aprendizado visual com filmes, viagens e exposições artísticas, as crianças podem desenvolver sua própria produção áudio-visual, através de oficinas ou iniciativas próprias, já que as câmeras de alta-resolução disponíveis nos seus assistentes lhes permite fotografar e filmar. Até foram criados concursos e mostras estudantis para este tipo de produção.


Para integrar de maneira eficiente todos estes elementos, uma nova estrutura de trabalho pedagógico teve que ser desenvolvida... e ainda está em elaboração pelos próprios professores. As idéias, reflexões e experiências são registradas por eles mesmos - seguindo parâmetros previamente acordados - e se transformam em boas práticas que influenciaram toda a rede de ensino. As diversas secretarias de educação tem liberdade para desenvolver metodologias próprias que são avaliadas nacionalmente por meio dos novos indicadores educacionais. As boas práticas detectadas são normatizadas e compartilhadas.


Dentro da escola, Maria não é só uma professora. Ela opina, contribui, elabora e avaliza cada decisão. Da mesma forma que estimula seus alunos a fazerem o mesmo. Estando em uma única escola e sendo incentivada a permanecer nela, Maria pode se apoderar deste espaço, como seus alunos são estimulados a se apoderar do conhecimento e dos recursos para sua construção.


Maria agora volta para casa mais cedo que em outros anos, quando dobrava sua carga de trabalho. Ela lembra do que a atormentava de manhã, no caminho para a escola, e abre novamente seu assistente dentro do ônibus. Ela digita um pequeno recado para seu marido e o envia pela rede sem fio até a retransmissora da TV Digital. Todas as televisões da cidade recebem o recado, mas somente o setup-box na casa de Maria o aceita e exibe a mensagem na tela da TV: "Querido, não esqueça que mamãe chega hoje a noite, arrume a casa e pegue ela na rodoviária".

Maria está tranquila. Sua auto-estima resgatada resume o fato de que ela, agora, compreende seu trabalho.

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